quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Saiba Mais...

Principais Receitas afro - brasileiras, e sua Origem...

Se você observar; muitas das receitas que nós costumamos comer,são de origem africana ou seja são comidas afro-brasileiras.

Se você quiser conferir mais receitas entre no site:www.portalafro.com.br/

Entre vários aspectos da cultura- como a literatura, a música, a dança, o teatro-a culinária tem sua importância reconhecida e é tomada como uma indicação da indentidade de como grupo humano. A sua variedade revela os recursos naturais de que dispõe o homem na região onde vive, também, a cultura que desenvolve.Algumas comidas afro-brasileiras:

Acarajé-Bolo de feijão-macaça temperada e moída com camarão seco, sal e cebola,frito com azeite de dendê.

Mungunzá-Alimento preparado com milho em grão e servido doce(com leite de coco) ou salgado (com acompanhamento de carne -de-sal/ ou torresmo) com leite.

Vatapá-Papa de farinha-de-mandioca com azeite de dendê e pimenta, servida com peixe e crustáceos.

Quibebe-Papa ou purê de abóbora(jerimum)com leite.

Abará-Bolinho de origem afro-brasileira feito com massa de feijão-fradinho temperada com pimenta, sal, cebola e azeite-de-dendê, algumas vezes com camarão seco, inteiro ou moído e misturado à massa, que é embrulhada em folha de bananeira e cozida em água. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Iansã, Obá e Ibeji).

Aberém-Bolinho de origem afro-brasileira, feito de milho ou de arroz moído na pedra, macerado em água, salgado e cozido em folhas de bananeira secas. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Omulu e Oxumaré).

Abrazô-Bolinho da culinária afro-brasileira, feito de farinha de milho ou de mandioca, apimentado, frito em azeite-de-dendê.

Acaçá-Bolinho da culinária afro-brasileira, feito de milho macerado em água fria e depois moído, cozido e envolvido, ainda morno, em folhas verdes de bananeira. (Acompanha o vatapá ou caruru. Preparado com leite de coco e açúcar, é chamada acaçá de leite.) [No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Oxalá, Nanã, Ibeji, Iêmanja e Exu.]

Ado-Doce de origem afro-brasileira feito de milho torrado e moído, misturado com azeite-de-dendê e mel. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Oxum).

Aluá-Bebida refrigerante feita de milho, de arroz ou de casca de abacaxi frmentados com açúcar ou rapadura, usada tradicionalmente como oferenda aos orixás nas festas populares de origem africana.

Quibebe-Pato típico do Nordeste, de origem africana, feito de carne-de-solou com charque, refogado e cozido com abóbora. Tem a consistência de uma papa grossa e pode ser temperado com zeite-de-dendê e cheiro verde.

O africano introduziu na cozinha o leite de coco, o azeite de dendê, confirmou a excelência da pimenta malagueta sobre o reino; dou ao Brasil o feijão preto, o quiabo, ensinou a fazer vatapá, mungunza, acaragé, angu e pamonha.

A cozinha africana, pequena mas forte, fez valer os seus temperos, os verdes, a sua maneira de cozinhar. Modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes; Faz a mesma coisa com os pratos da terra; E finalmente criou a cozinha brasileira, ensinando a fazer pratos com macarrão seco e a usar as panelas de barro e a colher de pau.

As deliciosas comidas típicas, como cuzcuz e muita carne de carneiro, são servidas em quase todos os lugares, como entrada o mais comum é ter pão e harissa (uma pasta de pimenta vernelha que deve ser comida com bastanate azeite).

As sopas de legumes com cereais apaerecem freqüentemente, acompanhados de debri (um bolinho de massa, semelhante ao pastel recheado com ovo frito e, as vezes, atum).

"O paladar não é tão universal como a fome" disse Luis da Câmara Cascudo em 1968. A feijoada para ele, era preciso uma predisposição especial para que se pudesse apreciar os sabores do prato.

O africano contribuiu com a difusão do inhame, da cana de açúcar e do dendezeiro, do qual se faz o azeite-de-dendê. O leite de coco, de origem polinésia, foi trazido pelos negros, assim como a pimenta malagueta e a galinha de Angola.

Entre os vários aspectos da cultura como a literatura, a música, a dança, o teatro, a culinária tem a sua importância reconhecida e é tomada como uma indicação de identidade de cada grupo humano.

Os africanos trouxeram ao Brasil o gosto por novos temperos e a habilidade de improvisar receitas, misturando ingredientes europeus e indígenas. Na falta de inhame usavam mandioca, na falta de pimenta africana, abusavam do azeite de dendê.

Na dieta do brasileiro, a influência africana pode ser percebida em dois aspectos:
no modo de preparo e na introdução de ingredientes, como o coco e o milho.

A cozinha africana privilegia os assados e não as frituras. O caldo é um item importante, proveniente do alimento assado ou simplesmente preparado com água e sal. No Brasil ,esta pratica popularizou o pirão.

Em países como Angola e Moçambique as influências portuguesas foram muito fortes e duradouras.

Especiarias, pimentas, abacaxi, banana, tomate, porco doméstico, técnicas de assados, cozidos e marinados foram introduzidos pelos portugueses, que se misturaram a culinária africana.

A comida que está em nossa mesa todos os dias é composta por muitas contribuições dos povos africanos e dos seus descendentes.

Cuscuz:é uma herança dos povos islamizados da África ,e é composto de farinha de trigo ou de arroz e servida com carne e verdura, já as nossa cozinheiras introduziram leite de vaca e leite de coco mais carne-seca e o torresmo como complemento.

Munguzá: esse alimento utiliza o milho debulhado e é preparado com o amido, cozido no leite-de-vaca ou no leite-de-coco, e é adoçado em algumas regiões e temperadas com sal em outras.

Acarajé: bolo de feijão-macaça temperado temperado e moído com camarão seco, sal cebola, frito em azeite-de dendê.

Abará: bolo de feijão-macaça preparado com azeite-de-dendê, envolvido em folha de bananeira e cozido em banho-maria.

Arroz-de-hauçá: arroz cozido em apenas em água, que pode ser servido com picadinho de carne-seca frita com molho de pimenta. 2.sem o molho de pimenta, comida oferecida ao orixá oxalá.

Bobó: pequeno bolo de massa de feijão mulatinho cozido em água, com sal e banana-terra, a que se junta azeite-de-dendê, podendo ser comido com farinha-de-mandioca.

Caruru: comida feita a base de quiabo cortado, fervido e temperado com camarões secos, azeite-de-dendê, cebola e pimenta.

Quibebe: papa ou purê de abóbora (jerimum) com leite.

Vatapá: papa de farinha-de-mandioca temperada com azeite-de-dendé e pimenta, servida com peixes e crustáceos.

E a nossa famosa feijoada, feita de acordo com o gosto de cada um.

Mas nunca esquecendo que a feijoada surgiu nas senzalas, feitas pelos escravos que cozinhavam o feijão nas horas de seus intervalos e aproveitavam os restos de porco (rabinho e pés) jogados fora pelos seus senhores.

Receita 06 - Quindim



Quindim

Tempo: 1 h
Rendimento: 15 porções
Dificuldade: Moderada


Ingredientes:
12 gemas
450 g de açúcar
1 colher de sopa de manteiga
1 coco raladogotas de limão para a calda

Modo de Preparo
Rale o coco e não retire o leite. Coloque o açúcar numa panela com um pouco de água e umas gotas de limão e leve ao fogo para obter uma calda grossa. Passe as gemas por uma peneira (não de metal). Deixe esfriar a calda e junte as gemas peneiradas, o coco ralado e a manteiga, mexendo bastante. Despeje em forminhas untadas com manteiga e leve ao forno quente, em banho-maria, para assar.

Fonte: Receitas Típicas

Receita 05 - Arroz Doce

Arroz Doce


Tempo: 1 h
Rendimento: 20 porções
Dificuldade: Facil

Ingrientes:

litro e meio de leite
2 xícaras de arroz (já lavado)
3 xícaras de açúcar
Canela em pau (quantidade a gosto)
1 lata de leite condensado
Uma panela bem grande para que o leite ferva e não derrame

Modo de preparo
Cozinhar o arroz no leite, juntamente com a canela
20 minutos depois, mexer de tempos em tempos, acrescentar o açúcar, deixar mais 20 minutos e logo em seguida acrescente o leite condensado e deixar mais 20 minutos
Colocar em uma linda travessa
Essa receita é de família
Uma delícia, esse é o verdadeiro arroz doce

Receita 04 - Pé-de-Moleque

Pé-de-Moleque


Tempo: 30 Minutos
Rendimento: 25 pedaços (em Média)
Dificuldade: Facil

Ingredientes:

500g de rapadura
250g de amendoim torrado sem sal
1/2 xícara (chá) de água

Modo de preparo

Coloque os amendoins em uma forma e leve ao forno médio para torrar.Reserve.
Unte uma forma ou refratário com manteiga e reserve.
Corte a rapadura em pedaços. Junte 1/2 xícara de água e leve ao fogo para derreter. Quando estiver derretido , acrescente os amendoins e mexa até dar o ponto. Com a ajuda de uma colher, vá pingando Pé-de-moleque na forma untada e espere esfriar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Receita 03 - Vatapá

Vatapá fácil da dona Maria


Tempo: 1,5 h (1 hora e 30 Minutos)
Rendimento: 8 Porções
Dificuldade: Moderada

Ingredientes:

4 batatas grandes cozidas
3 cenouras médias cozidas
3 tomates
1 pimentão verde
1 cebola grande
3 dentes de alho
1 molho de coentro
Azeite de dendê a gosto ou azeite de oliva
200 g de coco seco
200 ml de leite de coco
200 ml de leite comum
Duas colheres de margarina
Três colheres de farinha de trigo dissolvidas em meio copo de leite (ou, se sobrou, no caldo de camarão)
1 kg de camarão cinza
Sal a gosto
Pimenta a gosto
2 tabletes de caldo de camarão ou de peixe dissolvidos em duas xícaras de água (ou duas xícaras da água do cozimento do camarão)

Modo de Preparo:
1.Limpe o camarão e refogue em um pouco de azeite
2.Deixe cozinhar e ponha água suficiente para cobrir
3.Deixe uns 4 a 5 minutos
4.Tire do fogo e reserve
5.Em um liquidificador vá batendo os legumes, o coentro e o alho com o leite de coco, o leite de vaca e o caldo do camarão (do cozimento ou do tablete) até formar um purê de legumes bem consistente (vc vai ter que repetir a operação duas ou três vezes porque o liquidificador vai ficar muito cheio)
6.Use os liquidos para bater e se precisar de mais use leite de vaca
7.Reserve esse purê em um recipiente grande até terminar todo o processo
8.Coloque o purê de legumes em uma panela grande em fogo médio
9.Acrescente, mexendo sempre, o coco ralado, a pimenta, a margarina, a farinha dissolvida
10.Experimente o sal e se for necessário coloque mais
11.Coloque os camarões refogados
12.Misture
13.Regue com azeite de dendê ou de oliva a gosto (duas colheres é suficiente)
14.Quando engrossar estará pronto
15.Sirva com arroz branco

Fonte: Tudo Gostoso

Receita 02 - Acarajé

Acarajé

Tempo: 1 h
Rendimento: 15 porções
Dificuldade: Moderada





Ingredientes:


1 quilo de feijão fradinho


½ quilo de cebola


1 colher de sopa de sal


1 litro de azeite de dendê



Modo de Preparo

Coloque de molho o feijão fradinho de um dia para o outro. Esfregue para soltar as cascas e lave para eliminá-las. Passe num moedor junto com a cebola e, depois, bata até ficar uma massa leve. Tempere com sal, camarão seco moído, pimenta e azeite de dendê. Coloque o azeite de dendê numa frigideira e, quando estiver bem quente, frite às colheradas. Servir quente, com molho de acarajé.

Fonte: Receitas Típicas

Receita 01 - Caruru

Carurú

Tempo: 40 min
Rendimento: 15 porções
Dificuldade: Fácil

Ingredientes:
100 quiabos
1 xícara de castanha de caju
100 g de amendoim torrado e moído sem casca
2 xícaras de camarões defumados, descascados e moídos
2 cebolas grandes
2 xícaras de azeite de dendê
3 limões
2 colheres de sopa de sal
4 xícaras de água quente
pimenta (a gosto)
gengibre (a gosto)
alho (a gosto)


Modo de Preparo

Lava-se os quiabos, enxugando bem para não formar baba quando parti-los. Segundo a tradição, os quiabos devem ser cortados em cruz, no sentido longitudinal, e depois em rodelinhas bem finas; mas hoje já se corta nas facas do processador. Coloque os camarões secos e moídos, cebola ralada, alho, sal, castanha e amendoim para rechear no azeite de dendê. Ponha os quiabos partidos, as xícaras de água e as colheres de sopa de limão para cortar a baba. Adicione ainda alguns camarões secos inteiros e grandes. Cozinhe tudo até ficar pastoso. Quando os caroços dos quiabos estiverem bem rosados, retire do fogo.


Tradição:
"Na festa de São Cosme e São Damião, quando o caruru é de promessa, costuma-se colocar sete quiabos inteiros. O convidado que tiver no seu prato, ao acaso, um desses quiabos, fica na obrigação de oferecer ao santo outro caruru."

Fonte: Receitas Típicas

Como se Formou a Culinária Afro - Brasileira?


Culinária Afro - Brasileira


A cozinha dos negros se formou no Nordeste brasileiro mas que teve origem no Recôncavo Baiano.

E nessa região - do mar às portas do sertão - foi se formando uma cozinha, a "cozinha baiana" - também chamada de "comida de azeite", numa referência ao azeite-de-dendê, um de seus ingredientes básicos, o óleo extraído da polpa do fruto da palmácea Elaeis guineensis. (...) Existe uma vasta bibliografia botânica e histórica sobre essa palmeira de origem africana e sua introdução no Brasil, nos começos do século XVII - logo se aclimatando em todo o Nordeste do país. Foi o azeite dessa palmeira - da polpa, não da semente, que esta tem outros usos e outro nome - que deu a cor e o gosto às comidas afro-brasileiras e definiu, iconicamente, a participação africana no sistema alimentar brasileiro.

Podemos, então, falar em "cozinha de azeite" - ou "comida de azeite", ou "de dendê" - e entender que nos referimos a toda uma série de comidas, de uma segura origem 'africana', pelo elemento tipificador, identificador de suas origens. Certo não será apenas o dendê que define a comida afro-brasileira. Não apenas um ingrediente básico identifica a origem de uma comida num país pluriétnico como o Brasil, mas também as técnicas do preparo; as situações sociais, portanto, culturais, em que a comida é servida; a freqüência e outras circunstâncias indicadoras de sua proveniência; e a goma auxiliar dos condimentos, do uso prescritivo dos temperos, e, naturalmente, a nomenclatura dos ingredientes e dos pratos elaborados.

Outra constante icônica da "cozinha de azeite" são as pimentas, que têm provocado entre os especialistas acaloradas controvérsias quanto à sua origem botânica - americana ou africana. Se hoje não há mais dúvidas sobre a origem do dendezeiro, as pimentas usadas na comida de origem africana no Brasil são, indiscutivelmente, nativas notícias das Américas. (...) as variedades - e são muitas - de pimentas utilizadas na chamada 'cozinha baiana' e na cozinha brasileira em geral são, efetivamente, de origem americana, pré-colombiana e, na sua grande maioria, pertencem ao gênero Capsicum da família das solanáceas. Os índios brasileiros as empregavam largamente em suas comidas.

Mas foi com a codificação, por assim dizer, das cozinhas africanas no Brasil que o uso dessas pimentas se cristalizou em receitas e prescrições definitivas. O uso das pimentas dessa dupla influência - indígena e africana - se estendeu, já no século XVIII, para a mesa das classes dominantes num hábito gastronômico generalizado e marcante.

A participação da cozinha - ou das cozinhas - africanas no processo do sistema alimentar brasileiro apresenta um aspecto particular. Ela se vem fixando na dieta do povo desde o século XVIII. Por esse tempo, muitos dos pratos africanos já eram correntes na alimentação popular, vendidos nas ruas da cidade negra da Bahia, por "escravos-de-ganho".

Um cronista da época, Luís dos Santos Vilhena, que foi professor de grego na Bahia no fim do século XVIII, dali escreveu uma série de cartas a um amigo em Portugal, publicadas em livro, com o título ainda barroco de Recopilações de notícias soteropolitanas e brasílicas (1a edição: 1802). Dizia, então, Vilhena, na Carta Terceira:

"Não deixa de ser digno de reparo ver que das casas mais opulentas desta cidade, onde andam os contratos e negociações de maior porte, saem oito, dez e mais negros a vender pelas ruas, a pregão, as coisas mais insignificantes e vis: como sejam, mocotós, isto é mãos de vaca, carurus, vatapás, mingaus, pamonhas, canjicas, isto é, papas de milho, acassás, acarajés, abarás, arroz de coco, feijão de coco, angus, pão-de-ló de arroz, o mesmo de milho, roletes de cana, queimados, isto é, rebuçados a oito por um vintém e doces de infinitas qualidades, ótimos, muitos pelo seu aceio, para tomar por vomitórios; o que mais escandaliza é uma água suje feita com mel e certas misturas que chamam aluá que faz por vezes de limonada para os negros."

Essa por acaso longa citação mereceria uma análise demorada - que não posso sequer tentar aqui. Quero apenas ressaltar que nesse elenco de comidas vendidas nas ruas da Bahia, no fim do século XVIII, em meio de alimentos basicamente indígenas, da doçaria de origem portuguesa e de pratos já então 'brasileiros', está uma amostra considerável de pratos africanos, tipicamente africanos, como o acarajé, o acassá, o vatapá e o abará, que hoje, duzentos anos depois, continuam a ser vendidos nas ruas da Bahia e por outras cidades do Brasil.

Mas, por esse tempo - fins do século XVIII -, começava a se organizar, em comunidades estruturadas, na Bahia, o sistema religioso dos escravos de origem fon e iorubá, chamados na Bahia de jejes e nagôs - dos últimos a ser introduzidos no país pelo tráfico escravista. Há referências documentais de grupos religiosos anteriores, formados de escravos de origem banto, tanto na Bahia como nas áreas de mineração das Minas Gerais.

Mas, na Bahia, no fim do século XVIII esse processo de organização das comunidades religiosas se inicia para além das devoções individuais e domésticas dos escravos e libertos. (...) Esses grupos se reuniam, e assim se estruturavam, no próprio centro urbano da cidade, nas lojas dos grandes sobrados em que moravam seus senhores e nas pequenas casas da vizinhança compacta, moradia na maior parte, de africanos libertos e brasileiros negros.

Nesse tempo foram recriadas muitas das comidas cotidianas dos homens e dos santos. Pois que os santos comem o que os homens comem. E as comidas mais elaboradas das festas, das celebrações votivas. Esse foi o tempo do cozinheiro e da cozinheira escravos, que reproduziam o cardápio basicamente português, mas já substituindo, trocando ingredientes, colorindo os ensopados com o vermelho do dendê, inventando variedades de moquecas; usando o inhame, a banana cozida ou frita no azeite; recriando o caruru, o vatapá. Pratos novos com um sabor antigo - que era o deles - e um gosto novo - que eles aprendiam.

Elaboradas, requintadas na forma, no ordenamento do preparo, ou na simplicidade aparente de um despojamento prescrito pelo mito. Vez que atrás de cada oferenda alimentar está o mito que a prescreve pelas práticas divinatórias. Como ilustração, uma comida chamada ebô, que é um prato específico oferecido ao orixá - nagô Oxalá e à sua grande família de santos 'de branco', isto é, que usam obrigatoriamente roupas brancas, por isso chamados, no candomblé, de 'orixá fun-fun', de fun-fun (branco, em iorubá-nagô). Esse prato é apenas e tão somente feito de milho branco, descorticado, cozido sem sal! Oferecido a Oxalá e, em dias de festas, aos membros da comunidade e aos visitantes episódicos, servido sobre uma folha e comido, naturalmente, sem talher. Branco o ebô, e sem sal nem azeite-de-dendê, porque os mitos de Oxalá e de sua corte remetem à interdição desses temperos.

Fora do candomblé, essa cozinha marcadamente africana - tanto nos elementos constitutivos como nas técnicas do preparo e na terminologia correspondente - está presente não só na comida cotidiana do povo - por alguns de seus pratos mais 'ligeiros', ou 'secos' -, mas também nas celebrações e nas festas populares, na hospitalidade ocasional a visitantes 'de fora', nos almoços e jantares comemorativos e nos restaurantes turísticos da comida chamada curiosamente de "típica".

Quero, ainda, acrescentar que essa cozinha tão marcadamente africana - que a ideologia de um sistema religioso ajudou a criar e de certa maneira ajuda a preservar - se encontra atualmente espalhada por todo o país. Do Pará, da Amazônia, de Porto Alegre, nos chegam, com freqüência, publicações que documentam a crescente expansão do candomblé e, por conseqüência, da comida que não tenho dúvidas em chamar, ainda, de afro-brasileira.

Certo nem todas as comidas sacrificiais - e elas são mais de 80 pratos! - se acomodaram à comida cotidiana - ou episódica do povo. Mas o processo está aí. Os santos africanos comiam a comida dos homens. Hoje, os homens comem a comida estilizada dos santos.


Fonte: www.unica.com.br